quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Consciência Vocal no Canto Infantil


Sabe-se que entre os fatores de risco para a voz na infância, temos o exerço de gritos característicos do comportamento da maioria das crianças e também distúrbios ressonantais (som da voz) providos de crises alérgicas, obstruções de vias áreas e etc. Mas, a minha consideração nesse post será mais voltada em relação à voz cantada, como um agravante, quando NÃO SE TEM A CONSCIÊNCIA NECESSÁRIA para entender que cobranças de volume e práticas do canto com tensões, podem contribuir para um possível processo disfônico, uma piora de voz com alteração orgânica, ou uma possível lesão.

Para ser objetivo e direto, separei três pontos importantes relacionados à consciência vocal para o canto infantil.

1 - COMPENSAÇÃO FONATÓRIA: Ao observar aspectos básicos de fala e prolongamento de vogal é possível detectar em uma considerável quantidade de crianças, qualidade vocal rouca e soprosa, demonstrando indícios de voz desgastada. Gostaria de chamar atenção para esses aspectos pelo fato de que quando se pede para uma criança dessas cantar, nem sempre essas características de voz rouca serão identificadas por ouvidos NÃO TREINADOS, pelo fato da criança realizar compensações musculares, ou seja, ajustar a voz para esconder as quebras e defeitos, muitas vezes acompanhado com esse processo então o ato de pigarrear constantemente antes da emissão, e tossidas corriqueiras provenientes do ressecamento do trato vocal (boca seca) por falta do hábito de hidratação (tomar água no dia-a-dia ou nos ensaios). 

2 - USO DE AR RESIDUAL: As crianças que exercem a função de cantar em corais, muitas vezes quando NÃO RECEBEM UM TREINAMENTO RESPIRATÓRIO, usarão em demasia o que chamamos de ar residual, que seria popularmente falando “o ultimo fôlego” para terminar as frases cantadas. Isso contribui para uma “voz forçada” e hiperconstrição das pregas vocais, ou seja, um aperto desnecessário para conseguir cantar com firmeza.

3 - SOLICITAÇÃO DE VOLUME: É característico dos instrutores/coordenadores de corais quererem uma soma de voz com presença e potencia/volume, o CANTAR FORTE, e realmente musicalmente falando, isso chama atenção e valoriza o canto coral. MAS, É PRECISO ESTÁ ATENTO, pois nem sempre os corpos, ou seja, os organismos das crianças, me refiro a capacidade técnica, estão PREPARADOS, onde esse preparo NÃO SE ADQUIRI COM QUALQUER TREINO VOCAL. Pois, um treino vocal não embasado e não consciente podem agravar problemas vocais pelos pontos anteriormente citados: COMPENSAÇÃO FONATÓRIA E USO DE AR RESIDUAL entre outros.

Concluo falando, que é preciso que os pais e adultos que tem contatos com crianças em percebem uma voz dificultada, PRECISAM DAR IMPORTÂNCIA PARA ISSO, e buscar profissionais adequados para o ACOMPANHAMENTO E TRATAMENTO. Lembrem-se, isso NÃO É MENOS IMPORTANTES, nossa voz é nossa identidade, é nosso instrumento de comunicação, de expressão de sentimentos, e quando está afetada traz incômodos em outras dimensões de nossa qualidade de vida. Lembre-se que o falar fácil para a sua criança é importante assim com é pra você.

Qualquer dúvida ou esclarecimento sobre o assunto, estou à disposição.



Maxwell Silva
Pesquisador e Coach Vocal

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Direção Vocal - Missionário Dênes Souza – Considerações Sobre Condicionamento Vocal Individualizado



A proposta de condicionamento vocal individualizado atende as demandas e necessidades especificas do aluno. Fornecendo a prática com exercícios direcionados para benefício funcional. Com o missionário Denes Souza foi buscado propiciar um melhor fechamento glótico para controle de fluxo transglótico (Reter o fluxo de ar com menos resistência de prega vocal), e como benefício artístico, uma reconfiguração do trato vocal para melhor expressividade.

 Seguindo o principio de aperfeiçoamento nesse caso, o efeito prático “imediato” pode ser apresentado das seguintes formas: 

Na autorreferência, autopercepção do aluno em relatar melhora, e maior conforto no canto. 
Na qualidade vocal, que fornece dados do comportamento da fonte, pois de inicio por consequência da ativação e/ou desativação muscular, o comportamento vocal fornecerá características fisiológicas positivas ou negativas, o importante é que dará as coordenadas do que se pode trabalhar de possibilidades para o aluno. 
Na diminuição de ajustes impróprios, que contribuirá entre outros aspectos com a naturalidade de expressividade recorrente da produção vocal mais facilitada.
No aumento de plasticidade vocal com melhor aplicação do gama total, e estabilidade laríngea permitindo que os registros aconteçam sem interrupções.


As modalidades da prática vocal foram aplicadas com os seguintes objetivos:

Prática de gama tonal favorecendo o campo dinâmico e contração do CT (Glissando em vibração sonorizada de língua: exercício de trepidação vocal)
Exercitação isométrica com ajuste palatal para modificação de foco de ressonância (Emissão de vogal aberta e sucessivamente vogal hiposanal para aumento de tonicidade e ativação do véu palatino: Constrição velofaríngea) 
Facilitação de produção vocal com estimulo proprioceptivo do nível de pressão aérea com equilíbrio de resistência vocal em humming (Som facilitador nasal para retardo do fluxo ar por efeito da ressonância retroflexa, levando a menor esforço a nível glótico).
Ativação de memória sonora a partir da prática de postura de semioclusão do trato vocal (Juntamente com a solicitação de postura cervical favorecedora a prática em semioclusão do trato vocal fornece equilíbrio e sintonia entre as pressões supra e subglótica).

Demonstrando emissão com maior estabilidade de frequência, o aluno mostrou melhor acesso ao registro de peito com pressão aerodinâmica adequada e equilíbrio ressonantal. Uma ressalva: A solicitação de articulação mais vertical foi utilizada, por que se trata do primeiro momento do aluno, então para fins didáticos e para contribuir inicialmente para sua memória sonora e entender qual ajuste pode acessar para o equilíbrio de ressonância, utilizou-se juntamente com a semioclusão do trato vocal o “canto mais vertical” não característico do popular. É indicado que, apresentando  maior coordenação pneumofonoarticulatória e ativação do apoio suporte, os ajustes articulatórios em seu sentido horizontal sejam introduzidos.  


PRINCIPAIS REFERÊNCIAS:

CROAKE et al, Immediate Effects Of The Vocal Function Exercises Semi- Occluded Mouth Posture On Glottal Airflow Parameters:A Preliminary Study, The Voice Foundation, 2016
CIELO et al, Exercícios De Trato Vocal Semiocluído: Revisão De Literatura, São Paulo; Rev. CEFAC. 2013
PEREIRA, Eliane Cristina et al, Efeito Imediato De Técnicas Vocais Em Mulheres Sem Queixa Vocal, São Paulo; Rev. CEFAC. 2011
BEHLAU, Mara et al, Condicionamento Vocal Individualizado Para Profissionais Da Voz Cantada – Relato De Casos, São Paulo; Rev. CEFAC. 2014 
REIMANN, Ana Paula et al, Efeito Imediato Da Terapia Manual Laríngea Em Indivíduos Disfônicos, Säo Paulo; USP-Bauru; 2015. p. 62.



Maxwell Silva
Pesquisador e Coach Vocal